Isabel Fontes

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Localização: Amadora, Sintra, Portugal

Chamo-me Isabel Fontes, sou alfacinha de gema, mas vivo na Amadora desde o ano passado. Adoro escrever, é o meu escape para tudo o que existe de mal na vida e no mundo. Tenho 29 anos, sou Assistente Financeira\Direcção. Mas a minha área são as artes(Design). A vida dá voltas e voltas e quando dei por mim não estava a tirar artes mas sim a seguir o dinheiro. Acabei por tirar um curso de Contabilidade e Fiscalidade, entre outros. Apesar de tudo, adoro o que faço e isso, é o principal.

julho 01, 2004

"Meu Sutiã Cor-de-Rosa " - Por Milene Arder

Corre sangue em minhas veias, que fervilha, tanto quando me vejo diante de algo apaixonante, como indignada fico, às voltas com insólitas criaturas que, a despeito de portarem uma pele humana, são meros ratos saídos de algum fosso.

Há coisas difíceis de expressar, sem recorrer ao uso de palavras com carga explosiva.

Lido há muito com a linguagem expressiva e reconheço-lhe as faces e facetas. Não consigo usar de eufemismos para suavizar o recado que precisa ser dado e entendido, sem delongas.

Creio que herdei o gênio conturbado de meu pai, com exceção de seu gosto e apego ao dinheiro.

Meu velho tinha lá seus rasgos de bondade, mas, na maioria do tempo, era intempestivo, zangado, arisco... Suponho que acreditava que, se sorrisse, seria uma brecha para algum abuso. Tinha de mostrar a cara sisuda, pois era um ?homem de respeito?. Coisas de antanho... E de Júlio.

Até aos onze anos, época em que entrei para o ginasial, achei que não o amava, ao contrário, tinha-lhe uma birra medonha. E gostava quando ele se ausentava de casa: tínhamos - mãezinha, Candinha, Ceiça e eu ? toda a liberdade do mundo.

Era nessas ocasiões que contávamos para a mãe as novidades de nossas vidinhas simples e fazíamos nossas reivindicações: ?meias novas, sapatos... e essas coisas de que todas as meninas necessitam.

Lembro-me de quando pedi um sutiã, aos dez anos. Perguntei a causa do riso embutido e ela me disse:

? Filhota, ainda não há volume sob tua blusinha. Como vais segurar o sutiã?

Acho que não me entendeu. Eu não queria o sutiã para usar, queria-o para ter na gaveta, junto com as calcinhas... Olhei para o meu bustinho tão reto e fiquei melancólica. Tinha herdado, também, a magreza de meu pai.

No ano seguinte, aos onze, tive a primeira menstruação. O corpo, então, começou a delinear-se e os seios logo apareceram. Ganhei um sutiã lindo: cor-de-rosa, todo bordado em relevo. Fiz questão de usá-lo com uma blusinha semitransparente, para que todos percebessem o quanto eu havia ?evoluído?.

Que graça! Comecei esta crônica, para falar que sou ?boazinha de coração?, embora ríspida quando se faz necessário, e arrastei o assunto para o meu primeiro sutiã...

Se você, leitor amado, proceder desta forma, em um exame de vestibular, pode acreditar que será eliminado. Não tanto pela incoerência, pois tive meus motivos para me lembrar de meus (des) peitos, mas por haver divagado sobre assuntos tão diversos, deixando, sem conclusão, a idéia inicial que era, talvez, uma explicação para o meu comportamento ?aparentemente? extremista.

Mas que o meu sutiã cor-de-rosa era uma gracinha, lá isso era...

Milazul

By Milene Arder

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Uma explicação muito engraçada e vivida.
Gostei.
Maria Rosa Salgueiros

12:06 da tarde  

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